ERA UMA VEZ O CINEMA


Anjos de Cara Suja (1938)

cover Anjos de Cara Suja

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País: USA, 97 minutos

Titulo Original: Angels with Dirty Faces

Diretor(s): Michael Curtiz

Gênero(s): Crime, Drama, Filme-Noir, Suspense

Legendas: Português,Inglês, Espanhol

Tipo de Mídia: Cópia Digital

Tela: 16:9 Widescreen

Resolução: 1280 x 720, 1920 x 1080

Avaliação (IMDb):
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7.9/10 (18772 votos)

DOWNLOAD DO FILME E LEGENDA

PRÊMIOS star star star star star

Círculo dos Críticos de Cinema de Nova York, EUA

Prêmio de Melhor Ator (James Cagney)

INDICAÇÕES star star star star star

Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood, EUA

Oscar de Melhor Direção (Michael Curtiz)

Oscar de Melhor Ator (James Cagney)

Oscar de Melhor História Original (Rowland Brown)

Sinopse: Um dos mais famosos dramas criminais da história do Cinema, notável exemplar de uma série de filmes sobre gangsters dos anos 30 e um dos mais importantes trabalhos do diretor húngaro Michael Curtiz, que anos mais tarde teria seu nome imortalizado como o realizador de “Casablanca”. Curtiz trabalhou com um orçamento de apenas 600 mil dólares, mas conseguiu extrair grandes interpretações, sobretudo de James Cagney, que foi indicado para o Oscar naquele ano. Com uma direção segura, que faz bom uso dos cenários urbanos, da opressiva fotografia em preto e branco e de uma competente trilha sonora, resultaram em um dos maiores sucessos de bilheteria na época.

Um dos grandes responsáveis por esse triunfo foi o roteiro extremamente realista e contundente, assinado por John Wexley e Warren Duff (baseado em história de Rowland Brown, para o qual contribuíram – não creditados – Ben Hecht e Charles MacArthur. Outros destaques do filme são para a trilha sonora de Max Steiner, a fotografia de Sol Polito, a direção de arte de Robert Haas e os figurinos de Orry-Kelly. Este foi o grande filme de gangster do New Deal. Ao contrário de seus predecessores, como “Little Caesar” e “Public Enemy”, que tinham personagens carismáticos mas mal centralizados no contexto social da época, lançado em 1938, “Anjos de Cara Suja” apresentava uma visão mais cheia de nuances do que faz o homem moderno ser mau: um mau coração ou a culpa é da sociedade?

Mais uma vez, James Cagney está inegavelmente superior a todos no elenco no papel que fez dele uma lenda. Seu rigor dramático e sua presença na tela é elétrica por onde quer que ele passe e – trocadilhos à parte – sobretudo no final, quando seu personagem caminha pelo corredor da morte. Mas os roteiristas fazem com que o público não se esqueça de que ele no fundo é um bom homem, apenas sucumbiu aos elementos cruéis do submundo e à pessoas como o personagem de um Bogart ainda em busca da fama, um vilão sem escrúpulo algum, que não hesita em matar um homem, se isso significa evitar o pagamento de uma dívida pesada. Vemos como ele interage com um grupo de jovens deliquentes (os “Dead End Kids”), cujas atividades tendem a enchê-lo com uma saudade pungente, mas sinceramente, divertida. E vê-lo terminar fazendo o que é certo pelo seu ex-parceiro no crime, agora um padre interpretado por Pat O’Brien.

O que faz de seu personagem um autêntico anti-herói é saber que ele foi aprisionado pelas circunstâncias da vida e não pode fugir de uma vida de crimes, que é tudo o que ele conhece, e por conta disso quando está acuado, seu rosto se transforma, e se torna ameaçador. Rocky Sullivan é portanto o modelo básico de gangster que se inspirou em figuras reais e que o público aprendeu a admirar, tanto no cinema quanto na vida real. Seu personagem fascina mas do que o monótono padre Jerry Connolly. Neste filme, o diretor Michael Curtiz mostra que era um autor a frente de seu tempo, enchendo a tela com imagens miseráveis da vida nas ruas. Isto não é para mero efeito dramático, mas para mostrar-nos porque Rocky é o que é e como é que ele encontra nisso a esperança para a sua redenção.

Há almas a serem salvas e para o padre Connolly são Laurie e os meninos. Ele deve reassumir o seu amigo de infância e tentar ao menos salvar-lhe a alma, como ele mesmo foi salvo dos perigos da Mean Streets e permitiu que ele se tornasse o que era. Pode parecer uma escolha entre Deus e amizade que mantém o personagem distanciado da empatia da audiência. Mas quando o público se vê preso à um clímax atordoante e o desfecho segue para o momento derradeiro – a redenção de Rocky tão aguardada pelo padre mas até então improvável -, vemos o que está acontecendo por detrás do rosto de Connolly, em um cena que demonstra o talento sutil de Pat O’Brien.

A questão que o filme levanta é se os valores pregados por Rocky eram mesmo frutos de uma ilusão, mas suficientes para realizar um milagre mesmo para o bom Padre Connolly, e se a sua redenção poderia mesmo provocar a salvação para aqueles meninos, cuja última imagem, os mostra desoladamente aceitando a notícia da queda do seu herói, um momento ao mesmo tempo triunfante e amargo. “Angels With Dirty Faces” soa como uma nota otimista que alguns podem considerar falsa, mas é um otimismo bem merecido pela honestidade da visão expressa.

“Anjos de Cara Suja” marcou toda uma época, quer pela atuação brilhante de James Cagney, que ganhou o seu primeiro prêmio importante – melhor ator em 1938 pela Associação de Críticos de Nova York, quatro anos antes de ganhar o Oscar de ator por “Yankee Doodle Dandy”, curiosamente um musical. Em segundo lugar, foi uma espécie de sequência (a primeira) de um filme Bowery Boys após a sua introdução em “Dead End”, do ano anterior. Curiosamente, naquele filme, Humphrey Bogart era o bandido “Baby Face” Martin, apreciado pela gangue de meninos. Aqui, porém, Bogart interpreta um advogado chamado Jim Frazier, que é covarde e cruel – um tipo bem diferente de Baby Face.

Os Bowery Boys estão de novo às margens da lei e que o Padre Jerry Connelly está tentando manter no caminho certo. Aqui, no entanto, eles adoram Rocky, o ídolo marginal local, que cresceu no submundo e fez um nome para si mesmo. Mas Rocky é o mais antigo amigo de Jerry, e ele também está disposto a ajudar o padre com os meninos. A despeito dessa trama básica, existe uma subtrama envolvendo o personagem de Bogart e seu novo chefe, Mac Keefer (o injustamente esquecido George Bancroft) que obtiveram o controle de uma enorme quantia que pertence a Rocky, que a quer de volta. Em terceiro, há um ou dois pontos interessantes sobre a natureza histórica do desempenho de Cagney como Rocky.

Há uma cena memorável de tiroteio no filme quando ele mata um policial e se esconde em um edifício que realmente aconteceu: Em 1931 houve um incidente em Manhattan, quando um bandido chamado “Two Gun” Crowley, fugindo após um homicídio, enfrentou a polícia em uma batalha que durou quase uma tarde inteira. Assim como Rocky, Crowley foi derrotado por gás lacrimogêneo e morreu na cadeira elétrica.

Para terminar, uma história interessante que o próprio James Cagney conta em sua biografia, sobre ter incorporado os maneirismos de Rocky de um viciado em drogas que ele conheceu em sua infância, em Yorkville. Em outra fonte, diz que Cagney veio de uma família pobre mas que sempre tivera comida em sua mesa e roupas para vestir, mas alguns de seus colegas de juventude não tiveram essa sorte, sobretudo um rapaz apelidado “Bootah” por conta das botas enormes que era forçado a usar, chamado Peter Haslin. A vida afastou os dois amigos, e em 5 de abril de 1926, Heslin envolveu-se em um assalto à mão armada quando foi impedido por um policial de folga, Charles H. Reilly, que foi baleado e morto. Também ferido, Heslin foi preso pouco depois, julgado, condenado e executado em 21 de julho de 1927.

 

Elenco: